O reino de Kiato
141

ram, descobriram-se, e todas aquellas cabeças se inclinaram ao mesmo tempo, como si fossem de um só homem, correspondendo á saudação real. O silencio era tumular. A mudança de posição de muitas mil pessoas apenas produziu um deslocamento no ambiente, um cicio brando. Outro som não se percebeu. Ali estavam milhares de macrobios que se ergueram, lepidos como os moços; não se ouviu o ranger das articulações, ainda bem lubrificadas, não enferrujadas pela velhice.

Aquellas cabeças pretas e louras faziam um todo, salpicado de raros pontos brancos, as cans dos centenarios. Não se via uma cabeça calva, nem tão pouco velhice prematura. No kiatense os primeiros cabellos brancos apontavam aos oitenta annos.

Começou a sessão.

O rei, figura mascula, viril como todo o homem de Kiato, perfilado, lançou um golpe de vista para o auditorio e começou a leitura da mensagem, em vóz cheia, forte e de um timbre sonoro.

Suas palavras reforçadas pelo apparelho, eram levadas até o fim do pavilhão, onde estava Paterson, absorto inteiramente, não só pela maravilhosa invenção, como pelas palavras criteriosas e sabias.

A mensagem era uma photographia nitida do viver do povo desde as primeiras edades. Em estylo claro, conciso, sem uma palavra ambigua, eram narrados todos os acontecimentos, desde a fundação do Reino. Era uma noticia completa e perfeita das industrias, das artes, do commercio, das lettras, da sciencia e dos factos politicos.

Narrava, não commentava.

Paterson supportou de pé a primeira hora, a segun-