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Rodolpho Theophilo

mesma concorrencia. O segundo romance do tempo da decadencia, que leu, tinha o titulo — «Coração de mãe».

Libia, uma mulher formosa, nova, casada, rica, honesta, frequentando a alta sociedade, tinha um filho unico idolo do casal. O marido, um guapo rapaz, amava-a. Era feliz.

Um dia, seu. lar foi invadido pela desgraça. A creança mordida por um cão damnado — prologo de uma tragedia — o medico foi chamado immediatamente. Era um homem novo, bem apessoado, que desde muito tempo alimentava ardente paixão por Libia. Nunca tivera coragem de lh’a declarar, tal o respeito que impunha o ar senhoril daquella casta e formosa mulher.

Um pensamento maldito encheu a alma do doutor: possuir aquella carne, tel-a ao contacto de sua carne, sorver a grandes haustos o perfume que della se evolasse quando o seu ser se crispasse na volupia do goso. Possuil-a, gosal-a, antes que fosse preciso infamar-se, violar a consciencia, lançar um anathema sobre o seu nome. Obrigal-a-ia a trocar a honra pela vida do filho.

Valeu-se Libia das lagrimas, implorou piedade, mas o seductor, na febre da paixão, consciente de seu poder, (só elle, no momento, possuia o antidoto da raiva e ademais ausente o pae do enfermo) o seductor, impassivel, exagerou a urgencia da applicação do serum, fazendo ouvir o seu ultimatum: — ou ella se entregava, ou teria de ver morrer o filho hydrophobo, amordaçado, para não se morder a si e aos outros.

A infeliz mãe ajoelhou-se-lhe aos pés, pediu-lhe piedade, as mãos supplices, os olhos quebrados, numa languidez dolorosa, empanados de lagrimas, que se succediam