O reino de Kiato
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Os amores daquelle casal haviam sido castos como os das borboletas. O entrecho da novella, um idylio de beija-flores, de cujas scenas simples, que não sacudiam os nervos com o horrivel, a arte tirava encantos, symphonias que embriagavam a alma do leitor.

«A Queda» — deixára o espirito de Paterson atordoado pelo escandalo, pela maldade humana; «A Felicidade» embevecera-o na contemplação de scenas placidas, vividas no paiz do sonho. O romance era todo inteiro uma canção que enternecia a alma. As proprias sombras, que faziam a mortecor do quadro, não chegavam a dar tons de tristeza á aquarela.

Na terceira noite, voltou Paterson á bibliotheca para consultar alguma obra scientifica de autor Kiatense. Encontrou — «A origem da vida».

O assumpto era vasto e suggestivo. Delle grandes homens se haviam occupado, sem achar a verdade. Darwin, Lamark, Haeckel, Quatrefages, Spencer, pretenderam achar a incognita do problema na geração espontanea e no transformismo; chegaram a crear uma escola, o «darwinismo», bonito e bem architectado edificio que não resistiu aos embates das escolas que contra elle se formaram e acabou ruindo, porque a sua fundação repousa sobre uma base falsa, um espaço vasio, que era o intermediario, o elo que unia o homem ao mais perfeito dos macacos.

Paterson estava ancioso por conhecer as idéas do autor. Seria possivel que o problema do apparecimento da vida sobre a terra, até hoje insoluvel pela nossa carencia de conhecimentos, aquelle povo o tivesse resolvido? Bem podia ser que lhe estivesse reservada essa agradavel surpreza.