O SACI
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Disse e correu a ver se atrás do pote existia alguma flor azul.

Lá estava ela, a tal flor azul— exquisitissima e diferente de todas as flores conhecidas. O menino tomou-a, desfolhou-a e lançou-a ao vento, como a Cuca mandara.

Mal acabou de fazer isso, um fato maravilhoso se deu. Uma pedra do terreiro, que ninguem se lembrava de ter visto ali, principiou a inchar, a crescer e a tomar forma de gente. Segundos depois essa forma de gente começou a apresentar os traços de Narizinho, que, por fim, reapareceu tal qual era, forte e corada como Pedrinho o prometera a dona Benta.

Foi uma alegria. As duas velhas atiraram-se á menina e choraram quantas lagrimas ainda tinham dentro dos olhos — mas desta vez do mais puro contentamento.

— Então, minha filha, que foi que aconteceu? perguntou dona Benta.

Narizinho, ainda tonta, de pouco se recordava. Minutos após, entretanto, suas ideias principiaram a aclarar-se e pôde contar o que havia sucedido.

— Estou me lembrando, disse correndo a mão pela testa. Foi assim. Eu estava com Emilia debaixo da jaboticabeira. De repente, uma velha, muito velha e coróca, aproximou-se de mim com um sorriso muito feio na cara.

— “Que é que a senhora deseja?” perguntei-lhe naturalmente.

— “Desejo apenas oferecer á menina esta linda flor”, respondeu ela, apresentando-me uma flor azul muito exquisita. “Cheire; veja que maravilhoso perfume tem”.