delegação da sua autoridade atualmente conseguiria criar no país uma força maior do que a Coroa.
Mas, por isso mesmo, Dom Pedro II será julgado pela história como o principal responsável pelo seu longo reinado; tendo sido o seu próprio valido durante 43 anos, ele nunca admitiu presidentes do Conselho superiores à sua influência e, de fato, nunca deixou o leme. (Com relação a certos homens que ocuparam aquela posição, foi talvez melhor para eles mesmos e para o país o serem objetos desse liberum veto.) Não é assim, como soberano constitucional, que o futuro há de considerar o Imperador, mas como estadista; ele é um Luís Felipe, e não uma rainha Vitória – e ao estadista hão de ser tomadas estreitas contas da existência da escravidão, ilegal e criminosa, depois de um reinado de quase meio século. O Brasil despendeu mais de 600 mil contos em uma guerra politicamente desastrosa, e só tem despendido até hoje 9 mil contos em emancipar os seus escravos: tem um orçamento seis vezes apenas menor do que a Inglaterra, e desse orçamento menos de 1% é empregado em promover a emancipação.
Qualquer, porém, que seja, quanto à escravidão, a responsabilidade pessoal do Imperador, não há dúvida de que a soma do poder que foi acrescendo à sua prerrogativa foi uma aluvião devida àquela causa perene. No meio da dispersão das energias individuais