contestar, que a escravidão esteja condenada a desaparecer num período que pelo progresso moral contínuo do país nunca poderá exceder de vinte anos; por que não esperais que o fim de uma instituição, que já durou em vosso país mais de trezentos anos, se consume naturalmente, sem sacrifício da fortuna pública nem das fortunas privadas, sem antagonismo de raças ou classes, sem uma só das ruínas que em outros países acompanharam a emancipação forçada dos escravos?”
Deixo para o seguinte capítulo a resposta à primeira questão. Aí mostrarei que, apesar de toda a influência retardativa da escravidão, há dentro do país forças morais capazes de suprimi-la como posse de homens, assim como não há por enquanto – e a primeira necessidade do país é criá-las – forças capazes de eliminá-la como principal elemento da nossa constituição. Neste capítulo respondo tão somente à objeção, politicamente falando formidável, de impaciência, de cegueira para os interesses da classe de proprietários de escravos, tão brasileiros pelo menos como estes, para as dificuldades econômicas de um problema – a saber, se a escravidão deve continuar indefinidamente – que no ponto de vista humanitário ou patriótico o Brasil todo já resolveu pela mais solene e convencida afirmativa.
Essas impugnações têm tanto mais peso para mim quanto – e por todo este livro se terá visto – eu não acredito que a escravidão deixe de atuar como até hoje sobre o nosso país quando os escravos forem