amortização da dívida hipotecária, e não há probabilidade de que em tempo algum a lavoura com o presente sistema possa libertar os seus escravos sem prejuízo, não há vantagem alguma para o Estado em que a propriedade territorial continue em mãos de quem não pode fazê-la render, e isso mediante a conservação por lei de um sistema desacreditado de sequestro pessoal. Nesse caso a emancipação teria ainda a vantagem de introduzir sangue novo na agricultura, promovendo a liquidação do atual regime. A lavoura, quer a do açúcar, quer a do café, nada tem que temer do trabalho livre. Se hoje o trabalho é escasso; se uma população livre válida e desocupada, que já se calculou, em seis províncias somente, em cerca de 3 milhões de braços,[1] continua inativa; se o próprio liberto recusa trabalhar na fazenda onde cresceu, tudo isso é resultado da escravidão, que faz do trabalho ao lado do escravo um desar para o homem livre, desar que não o é para o europeu, mas que o liberto reconhece e não tem coragem de sobrepujar.

Tudo nessa transição, tão fácil havendo boa inteligência entre o país e a lavoura, como difícil resistindo esta ao fato consumado, depende dos nossos agricultores. Se a escravidão não houvesse por assim dizer esgotado os recursos do nosso crédito;

  1. Tentativas centralizadoras do governo liberal, pelo senador Godoy, de São Paulo. Nesse opúsculo há o seguinte cálculo dos braços empregados na lavoura das províncias de Minas, Ceará, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro: Livres, 1.434.170; escravos, 650.540. Braços livres válidos, desocupados, de 13 a 45 anos, 2.822.583.