pertence escolher aquele que há-de desposá-la. Tu serás o escolhido, e sê-lo-ás talvez hoje mesmo. Afirma-to o conde de Trava.
O cavaleiro ficou por largo espaço pensativo. Reflexões encontradas tumultuavam no seu espírito. Nestas eras civilizadas em que a ideia do amor é mais pura nos corações que o compreendem, nenhum ânimo generoso deixaria de recusar com horror esse meio violento de satisfazer seus desejos. Naqueles rudes tempos, porém, a generosidade e a delicadeza dos afectos morais era mais um instinto confuso que uma doutrina definida, gravada na alma pela educação e pelas crenças sociais. Era por isso que Garcia hesitava entre o íntimo aconselhar de uma nobre consciência e o cego desejo de paixão ardente. A tenuíssima esperança que ainda lhe restava fez triunfar, enfim, a sua natural generosidade.
— Não - disse ele -, não quero dever à obediência o que só quisera merecer pelo amor.
— Que importa? - interrompeu Fernando Peres. - Deixa, Garcia, aos trovadores essas afeições que se pagam de submissão e suspiros. Juramento feito pelas cinzas de meu pai nunca deixei de cumpri-lo. Poderia agora fazê-lo?