Hilarião, que te ama como um filho? Cria-te ainda na Síria.
— De lá cheguei há poucos dias - respondeu o mancebo, lançando um dos braços à roda do pescoço do velho monge, que tentava também abraçá-lo chorando, mas de contentamento. - Às primeiras novas de que o infante e os infanções de Portugal tentavam sacudir o jugo do conde de Trava dirigi-me ao arraial de D. Afonso que se encaminhava para aqui. Lá o teu nome era afrontado com o título de desleal pelos teus inimigos. Estavas em Guimarães: as aparências condenavam-te, e o meu coração padecia. Vim pois dizer-te: "Lidador, é tempo de combater!" Queria, porém, saber primeiro se as minhas palavras tinham na tua alma a mesma força que dantes; queria saber se a tua amizade havia expirado como o amor de Dulce, que eu já sabia se esquecera de mim: foi para isso esta carta. Sei agora ao certo que ainda te posso dar o suave nome de amigo; sei enfim que amizade dura mais que o amor. Vós - acrescentou ele voltando-se para o monge - perdoais-me por certo a mágoa que vos causei!
— Oh, meu filho, meu filho! - replicou Fr. Hilarião - para que vieste expor-te à vingança de Fernando Peres, que mortalmente odeia a