torrente; o monge, porém, confrangia-se, lembrando-se do perigo a que se expusera o imprudente Egas Moniz. Assim, interrompendo-o, disse ao mancebo:
— É necessário que partas já. No meio do ruído e confusão do banquete; entre a multidão de gente que vagueia ainda pelo castelo e pelo burgo ninguém te conhecerá. Mas qualquer imprudência pode perder-te: qualquer imprudência!... Repara bem, Egas. Estes paços encerram para ti a morte.
Eram o amor e o ciúme do moço trovador que o bom do monge mais receava. Sabia quanto ele amava Dulce: conhecia a violência das suas paixões, e que a do ciúme devia ser terrível naquele coração. Porventura o motivo da sua vinda a Guimarães não fora só o que dizia. Estas ideias, que de golpe tinham ocorrido a Fr. Hilarião, lhe faziam desejar com tanto afinco a partida breve do cavaleiro.
— Não sei porque a minha vida periga dentro destes muros - replicou Egas Moniz. - Há mui poucos dias que cheguei a Portugal; e o conde de Trava não sabe se o meu balção flutua no arraial do infante...
— Esqueceste depressa na Terra Santa - interrompeu o monge - que quando há um cadáver