O monge, o cavaleiro e todos os habitantes dos paços de Guimarães haviam-se completa e profundamente esquecido do truão, como porventura terá acontecido a mais de um dos nossos leitores.
Neste momento a luz de uma lanterna de furta-fogo deu de chapa nos vultos do Lidador e de Fr. Hilarião. À ténue claridade que nos próprios corpos se refrangia, eles viram um braço, que segurava a lanterna no vão de uma porta baixa meia cerrada, que mais parecia o ádito da pocilga de um mastim que de habitação de homens. No meio do vão escuro luziam dois olhos, e alvejavam os dentes de boca escancarada por um rir que devia ser feroz.
— Que fazes aqui, truão? - perguntou o cavaleiro colérico.
— Escutava - respondeu tranquilamente o bobo estendendo a cabeça para os dois.
— Foi desgraça tua! porque me é necessário o teu silêncio - murmurou o Lidador, largando a espada na bainha, travando do braço de Dom Bibas, e levando a mão ao punhal que tinha no cinto. O bobo não deu o menor sinal de susto e, vendo este movimento do cavaleiro, que porventura só pretendia aterrá-lo, com um tom