tristes edificações. Ainda que algum documentinho de má morte provasse o contrário cumpria-nos pô-lo no escuro, ou contestar-lhe francamente a autenticidade, porque o conde foi o fundador da monarquia, e a monarquia desfunda-se uma vez que tal cousa se admita. Assim é que se há-de escrever a história, e quem não o fizer por este gosto, evidente é que pode tratar de outro ofício.
Fossem, porém, quais fossem os motivos do conde, o certo é que não lhe esquecera o construir nas raízes daquelas torres e muralhas uma forte masmorra, cujo pavimento ficava inferior ao fundo do fosso lançado entre as barbacãs e as quadrelas do muro. Este lugar húmido e malsão apenas recebia a ténue claridade de duas troneiras que davam para a cárcova. Dentro, uma escada de pedra fechada no alto com um alçapão chapeado de ferro conduzia à escada superior da torre. Ao lado via-se um potro, do qual estavam pendurados alguns tagantes ou açoutes de couro cru, cordas e mais aparelhos de tratos. Defronte uma polé pendente de grossa argola cravada na abóbada, e distante apenas da parede dois ou três palmos, oscilava quase imperceptivelmente com os golpes de vento que murmuravam pelas altas frestas ou troneiras.