E o pajem saiu; e Dulce ficou em pé, com os braços pendentes e os olhos fitos na tumba: os seus joelhos não se dobravam, porque o orar não lhe traria a consolação. Nas desditas comuns da existência o espírito busca a Deus; mas a suma desventura é ímpia e incrédula, mais que a plena felicidade.
Também ser-lhe-ia impossível orar. Ouviu uns passos que davam nas lajens um som metálico. O recém-vindo encaminhava-se para ali vagarosamente. Dulce não mostrou um só indício de susto: despregou os olhos do féretro e cravou-os no desconhecido, com semblante sereno.
O cavaleiro chegou ao pé da nobre dama. Ela sentiu a sua luva de ferro segurar-lhe o braço; mas a mão que o segurava não sentiu esse braço tremer. Conduziu-a até à borda da tumba, e parando apontou para esta.
— Dorme o sono do verdadeiro repouso - disse Dulce sorrindo. - Quem me dera dormi-lo também! Mas para que me trazeis aqui? Quem sois vós que vos atreveis a pôr mãos na mulher do alferes-mor de Portugal, que espera no lugar por ele aprazado a vinda de seu marido?
— Eterno que fosse o teu esperar seria inútil - respondeu o cavaleiro. - Ele te precedeu