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um juiz para julgar as suas e as alheias acções.

— Que juizo ficaria fazendo de mim Luizinha? perguntou de si para si o Cabelleira, insensivelmente arrastado por esta ordem de idéas. Ah! que póde ella pensar de mim sinão que sou um assassino?!

Luiza tinha-o, de feito, nomeado por esta palavra, havia poucos instantes, entre as lagrimas que lhe arrancára o desespero. Era pois certo, e o bandido bem o comprehendia, que o abysmo que já na meninice de ambos os separava, longe de se ter arrazado, se tornára mais fundo com o correr dos annos. Agora elle não judiava só com os animaes como em outro tempo; elle saqueava povoações e matava gente; e desta verdade era irrecusavel prova o que acabára de praticar com Florinda. Si até aquelle momento Luizinha lhe votára affeição ou se condoêra da sua pouca sorte, era natural suppôr que estes sentimentos se tivessem modificado, sinão de todo extinguido, depois do ultimo acontecimento. Á affeição deveria ter succedido o desprezo, á pena o odio.

Não eram outras as idéas que tumultuavam na cabeça de Cabelleira. Estas idéas produziram no seu animo tão profunda impressão que elle sentiu lagrimas nos olhos, elle o grande