uma desgraça para o Liberato, mais do que para nenhum outro, aquella vizinhança.
Liberato propôz a venda das terras a mais de um morador do lugar, mas todos se escusaram a compral-as. De que valiam ellas em realidade, com serem tão boas, estando sujeitas, como estavam, áquella omnimoda servidão? Não tendo para onde ir, nem outro algum recurso, resignou-se Liberato á sua sorte, e botou para Deus, juiz supremo, que dá provimento a todos os recursos interpostos com justo fundamento. Era de indole pacifico, tinha mulher e filhos, não queria rixas com ninguem, e muito menos as queria com matadores de profissão.
Quando lhe aconselhavam em familia, a mulher, ou os filhos, para que reagisse contra os ladrões, elle respondia sempre com estas palavras, ou com outras equivalentes:
— Deus me livre. Si os brancos e o rei não podem com elles, eu, que sou negro, é que hei de poder? Vamos passando assim mesmo conforme Deus nos ajudar. Póde-se dizer que vivo trabalhando para elles. Paciencia! Um dia isto ha de ter fim, ou com a vida, ou com a morte. Será quando Deus quizer.
Liberato não procedia deste modo por fraqueza, mas por bonissimo discernimento. Elle era até valente por origem. Vinha a ser