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— De hontem para cá, proseguiu ella, tem jurado milhares de vezes não derramar mais sangue sobre a terra, e milhares de vezes tem quebrado seus juramentos! Sempre que falta á sua palavra, atravessa sem o suspeitar o meu coração com sua faca. Não demore mais o meu penar, mate-me de uma vez. Perdôo-lhe a morte, por Deus lhe juro, por Deus que nos está ouvindo no meio desta solidão.

Luiza tinha-se insensivelmente ajoelhado aos pés do bandido, e lhe abraçava as pernas com mostras de irreprehensivel affecto. Dos olhos rolavam-lhe lagrimas como contas de rozario espedaçado.

Estatico, e confuso, não achou José palavras para responder á exprobração e rogativas que aquelle coração generoso dictava inspirado pela piedade de uma alma grande e terna.

— Não me falle assim, Luizinha, respondeu emfim o bandido, levantando-a e abraçando-a. Quando eu a vejo chorar, sinto-me enfraquecer; quando vossê me pede alguma cousa, sou incapaz de negar-lh’a, ou de resistir á sua vontade.

— Mas de que serve o que me diz, si não se esquece da sua vida tão triste e infeliz? Cabelleira, porque não se ha de tornar brando