Ajoelharam-se ao pé da cruz, Cabelleira com a face quasi occulta por seus longos cabellos negros, Luiza com a cabeça erguida, e os olhos postos na frouxa claridade do sol que se desvanecia na abobada celeste. Defronte delles a cruz resequida, solitaria e muda testemunhava aquella scena com a solemne indiferença dos symbolos sagrados que é muito mais expressiva e eloquente para os seus crentes do que as vozes da mór parte dos sacerdotes da respectiva religião.
— Reza, Cabelleira; disse a moça ao matador assombrado.
— Ai, Luizinha! Não sei rezar! disse elle com voz tão sentida e magoada que indicou a pena profunda que lhe cortava o coração.
Elle estava na realidade commovido até ás entranhas. Superexcitado pela falta de alimentação, pelo cansaço da jornada, pelo calor do dia, pelas recordações que o affligiam de envolta com o remorso incipiente, via a cada canto a terrivel visão reproduzida na clareira, na selva, nos ares, finalmente em toda a parte aonde volvesse os pavidos olhos.
— Eu te ensinarei, redarguiu Luizinha. Dize comigo.
A moça principiou então em voz alta o padre-nosso.