Dona Leonor, sorprendendo este sentimento do marido, propoz-se tirar delle o maior proveito para o infeliz. Atirou-se a Christovam de Hollanda, e o cobriu de afagos e carinhos.
Fez mil rogativas para que se amerceasse da sorte do Cabelleira. A seu entender, alguns annos de prisão bastariam para que elle se corrigisse e emendasse.
— Mas quem diz que não será esta a pena que se lhe vai impôr? perguntou o capitão-mór.
— Não o disse já o senhor, Christovam? Sou eu que lhe peço que dê escapúla ao infeliz.
— Escapúla, Leonor, escapúla! exclamou Christovam. E minha honra, e meu dever?
— Elles não ficarão manchados com um acto de humanidade. Todos dizem que a máos conselhos e funestas instigações deve o Cabelleira o ter commettido tantos crimes. Pois bem; aquelle que o aconselhou e instigou á pratica desses crimes, o verdadeiro criminoso, lá está para responder pelo que fez, e mandou filho fazer. Sua condemnação servirá de exemplo á sociedade e ao proprio filho delle; mas a condemnação deste será uma grande injustiça, e o céo não permittirá jámais que para ella concorra Christovam Cavalcanti que sempre trouxe limpo o brazão que lhe legaram seus avós.