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do sangue fresco e quente que do rosto lhe descia aos labios e destes penetrava na bocca cerval. Não temos aqui um só amigo. Todos nos querem mal. É preciso fazer a obra bem feita.

Este homem era o genio da destruição e do crime. Por sua bocca fallavam as baixas paixões que á sombra da ignorancia, da impunidade e das florestas haviam crescido sem freio e lhe tinham apagado os lampejos da consciencia racional que todo homem traz do berço, ainda aquelles que vem a ser depois truculentos e consummados sicarios.

Seu coração estava empedernido, seu senso moral obcecado.

Nenhum sentimento brando e terno, nenhum pensamento elevado exercitava a sua salutar influencia nas acções deste ente degenerado e infeliz.

— Estás com medo, Zé Gomes, deste poviléo? Parece-me ver-te fraquear. Por minha benção e maldição te ordeno que me ajudes a fazer o bonito emquanto é tempo. Não sejas molle, Zé Gomes; sê valentão como é teu pai. [1]

  1. Dizem os trovadores:

    Meu pai me pedio
    Por sua benção
    Que eu não fosse molle,
    Fosse valentão.