Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/43

haver concluido o roubo que assentaram de praticar em um dos armazens. A denuncia do matuto transtornára esta combinação pela fórma que o leitor conhece, não impedindo porém que no essencial viesse ella a verificar-se, porque, ouvindo o trovão do alarido e fazendo conta que o conflicto fôra provocado pelos amigos como meio de concentrar em um só ponto as geraes attenções a fim de deixal-o ao abrigo de qualquer sorpresa, tratára Theodosio de aproveitar o tempo com a promptidão e pericia que lhe eram habituaes em semelhante genero de occupação.

Na extremidade de uma vara fôra acinte atado um ferro adunco para facilitar o escalamento. Prendêlo na varanda do armazem, subir pela longa haste até a estiva, passar desta á janella, e saltar dentro fôra obra de um instante para o Theodosio. Em poucos minutos quinquilharias preciosas, armas de fogo, perfumarias, miudezas de toda sorte desceram por cordas em suas caixas ou pacotes para a canôa. As gavetas, primeiro que as vidraças foram violadas e revistadas, e o dinheiro que continham passára a povoar o bolso do atrevido roubador.

São tradicionaes os roubos que deste modo se praticaram na ponte do Recife por aquelles tempos e durante muitos annos depois.