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TH. BRAGA

d' onde se formou o grande cancioneiro parece fixar-se por esta circumstancia. Sob este mesmo numero segue-se: "Alia lectio i Portugal, rey Don Sancho deponit." Quer esta observação de Colocci significar, que este rei D. Affonso em outro codice é citado como rey de Portugal, o que depoz D. Sancho, facto que caracterisa el-rei Dom Affonso III, que depoz seu irmão D. Sancho II. N'este caso este monarcha tambem fôra trovador, o Colocci possuia algum cancioneiro parcial. No mesmo Indice dos Trovadores, sob o numero 467 onde se continha as canções de El-rei Dom Affonso rei de Castella e de Leão, accrescenta-se: "vide nel mio lemosino", no qual se attribuem as mesmas cantigas de preferencia ao rei de Leão, isto é, em harmonia com o titulo di Ragona, do numero 456. Em uma outra nota que o illustre Monaci achou no Codice n°. 4817, de letra d'este erudito, se acha a seguinte referencia a um codice portuguez: "Messer Octaviano di messer barbarino, ha il libro di portoghesi, quel da Ribera l'ha lassato." Sabendo-se pela bibliographia, que o manuscripto da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro, foi na primeira metade do seculo XVI levado para a Italia, imprimindo-se em Ferrara em 1544, cinco annos antes da morte de Colocci, parece que a phrase quel (libro) da Ribera se refere a esta novella portugueza. Seria por este tempo que o cancioneiro portuguez se tornou conhecido em Roma, como dá noticia Duarte Nunes de Leão, nas palavras "que em Roma se achou", mas sem dizer que já pertencia á Bibliotheca do Vaticano. A epoca em que este codice entrou n'esta rica bibliotheca pode fixar-se depois de anno de 1600, por que os livros e manuscriptos de Colocci foram adquiridos pelo erudito Fulvio Orsini, que os deixou em testamento á Vaticana.[1] Esta é a opinião de Monaci; não concordamos porém com a sua interpretação do trecho de Duarte Nunes de Leão quando este escriptor portuguez diz: "segundo vimos por um cancioneiro seu, que em Roma se achou, em tempo de el-rei Dom João III..." deduzindo que Nunes de Leão chegara a vêr esse cancioneiro; em primeiro logar, Nunes de Leão refere-se a um Cancioneiro seu, isto é unicamente de el-rei Dom Diniz, e não geral, como o de que resta noticia pelo Indice de Colocci e pelo apographo da Vaticana; isto já é uma prova da informação vaga do chronista, e alem d'isso a phrase segundo vimos, significa: como se prova, como se deduz. Nunes de Leão conhecia o codice das canções de D. Diniz que no principio de século XVII se guardava na Torre do Tombo, como elle diz: "e per outro que está na Torre do Tombo..." ou talvez pelo que pertencia aos Freires de Christo, de Thomar. Vivendo no meado do seculo XVII, já o cancioneiro grande havia sido recebido na Bibliotheca do Vaticano e poderia ter noticia da existencia do Codice; porém o chronista refere-se principalmente a um Cancioneiro de Dom Diniz, e as referencias de Sá de Miranda, de Ferreira e de Camões são unica-


  1. Tiraboschi, Storia della Letteratura italiana, t. VII, 246.