O CHOQUE
165

— Pois saiba que nenhum espectaculo futuro me surprehendeu tanto como as noites das cidades americanas. A noite urbana que temos hoje não passa da noite natural picada de focos luminosos — um jogo, portanto, de sombra e luz. O que lá vi não recordava essa alternativa. Soffrera completa mudança a illuminação artificial — tamanha como a do transporte depois da vinda do radio. Inventara-se a luz fria. Por dentro e por fóra eram pintadas as casas de uma tinta de luar, que dava ás cidades o aspecto de emersas de um banho de phosphoro. Paredes, muros, telhados, todas as superficies dimanavam um pallor uniforme de sonho. Mas o escuro é tão necessario ao homem como o luminoso - e todas as casas possuiam commodos não revestidos de luar ou apenas aquarellados de leve. Que deliciosas penumbras vi no Oblivion Park, em Eropolis!...

— Quê? Havia a cidade do Amor?

— Sim. Uma cidade das Mil e Uma Noites, erguida no mais bello recanto dos Adirondacks e exclusivamente dedicada ao Amor. Para lá só iam os enamorados, os casados em lua de mel, nella só permanecendo durante o periodo da ebriedade amorosa. O senhor Ayrton com certeza já amou e sabe como o amor desabrocha em flores e perfumes as creaturas. Pois imagine um eden creado pela phantasia de todos os grandes amorosos — Dante, Pe-