O CHOQUE
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Kerlog já lá estava, no salão do conselho, mais sereno do que na vespera, embora ainda cheio de rugas na fronte. A conferencia com Jim Roy abalara-o. Não era o negro um ambicioso vulgar, como havia supposto. Via agora em Jim uma nobre alma de patriota, capaz do supremo heroismo de sacrificar-se pela America. Graças ao seu concurso podia o governo estudar com a necessaria calma a gravissima situação.

Reunidos todos os secretarios, quem primeiro falou foi o ministro da Paz, antigo juiz cujo respeito pela Carta tinha algo de supersticioso.

— "Reflecti durante a noite sobre o caso, disse elle, e cheguei á conclusão de que a nós só compete mostrar-nos fieis á memoria dos instituidores da nação. A lei basica existe e a nossa missão suprema é fazel-a cumprir. Foi eleito um cidadão americano tão elegivel como o senhor Kerlog ou miss Astor. Governo que somos, a lei nos obriga a acceitar o facto, mantendo a ordem e empossando Jim Roy no momento opportuno.

— "Perdão ! interveio o ministro da Equidade. Creio que o senhor Kerlog não nos con- vocou para o exame formal do problema. Seria inutil, sobre infantil. O problema transcende a esphera politica e torna-se racial. Neste momento não estamos aqui secretarios de estado, e sim brancos afrontados pelos negros.