livres e sozinhos, independentes, vivendo um para o outro, numa eterna embriaguez de gozos.
Mas, na ocasião em que a baiana, seguida pelo pequeno, passava defronte da porta de Piedade, esta deu um salto da cadeira e gritou-lhe:
— Faz favor?
— Que é? resmungou Rita, parando sem voltar senão o rosto, e já a dizer no seu todo de impaciência que não estava disposta a muita conversa.
— Diga-me uma coisa, inquiriu aquela; você muda-se?
A mulata não contava com semelhante pergunta, assim à queima-roupa; ficou calada sem achar o que responder.
— Muda-se, não é verdade? insistiu a outra, fazendo-se vermelha.
— E o que tem você com isso? Mude-me ou não, não lhe tenho de dar satisfações! Meta-se com a sua vida! Ora esta!
— Com a minha vida é que te meteste tu, cigana! exclamou a portuguesa, sem se conter e avançando para a porta com ímpeto.
— Hein?! Repete, cutruca ordinária! berrou a mulata, dando um passo em frente.
— Pensas que já não sei de tudo? Maleficiaste-me o homem e agora carregas-me com ele! Que a má coisa te saiba, cabra do inferno! Mas deixa estar que hás de amargar o que o diabo não quis! quem to jura sou eu!
— Pula cá pra fora, perua choca, se és capaz!