— Ora muito bem! acrescentou o cavouqueiro. Agora para a coisa ser completa, hão de jantar conosco!
A portuguesa opôs-se, resmungando desculpas, que o cavouqueiro não aceitou.
— Não as deixo sair! É boa! Pois hei de deixar ir minha filha sem matar as saudades?
Piedade assentou-se a um canto, impaciente pela ocasião de entender-se com o marido sobre o negócio do colégio. Rita, volúvel como toda a mestiça, não guardava rancores, e, pois, desfez-se em obséquios com a família do amigo. As outras visitas saíram antes do jantar.
Puseram-se à mesa às quatro horas e principiaram a comer com boa disposição, carregando no virgem logo desde a sopa. Senhorinha destacava-se do grupo; na sua timidez de menina de colégio parecia, entre aquela gente, triste e assustada ao mesmo tempo. O pai acabrunhava-a com as suas solicitudes brutais e com as suas perguntas sobre os estudos. À exceção dela, todos os outros estavam, antes da sobremesa, mais ou menos chumbados pelo vinho. Jerônimo, esse estava de todo. Piedade, instigada por ele, esvaziara freqüentes vezes o seu copo e, ao fim do jantar, dera para queixar-se amargamente da vida; foi então que ela, já com azedume na voz, falou na divida do colégio e nas ameaças da diretora.
— Ora, filha! disse-lhe o cavouqueiro. Agora estás tu também pr’aí com essa mastigação! Deixa as tristezas pr’outra vez! Não nos amargures o jantar!
— Triste sorte a minha!
— Ai, ai! que temos lamúria!