O vento rugia cada vez com mais violência; o céu se abria em cataratas de fogo, e a chuva começava a despejar-se em torrentes; açoitadas pela refega as árvores vergavam-se rangendo e uivando horrivelmente, e de tempos a tempos um tronco arrancado pelo temporal baqueava com temeroso estrondo desabando pelos grotões profundos. Itajiba naquela cruel conjuntura, já esquecido de todos os mais cuidados, só tratou de procurar uma guarida, em que pudesse pôr a salvo de tão tremendo temporal a sua amada Guaraciaba. Mas por toda a parte só via as selvas imensas, que rugiam e curvavam-se ameaçadoras como querendo desabar sobre suas cabeças, e as torrentes que estrugiam rolando troncos e rochedos pelas quebradas inacessíveis. Tomando Guaraciaba pela mão e amparando-a contra a fúria do vento, que parecia querer arrancá-la do solo e arrebatá-la pelos ares, Itajiba foi descendo para um grotão, no fundo do qual roncava um ribeirão encachoeirado entre rochedos. Não longe da ribanceira enorme lajedo servia de teto a uma vasta e profunda furna, cuja larga entrada se formava sobre uma esplanada, por baixo da qual a torrente turva e espumosa rolava em catadupas. Essa furna medonha à margem de um abismo, ninho talvez de panteras e serpentes, tornou-se nesse dia como a alcova misteriosa que acolheu em seu seio dois amantes felizes, que a tempestade surpreendeu desgarrados de seus lares, e os