flechas voaram dos arcos a um tempo e cruzaram-se nos ares. Inimá, varado no coração, depois de cambalear um instante caiu de cabeça para baixo como enorme surubi escapado à rede do pescador, e a líquida sepultura, que o devorou para sempre, fechou-se de novo sobre seu cadáver remoinhado com lúgubre rumorejo. Gonçalo porém vacilou apenas, e conservou-se em pé. Acaso Inimá em tão curta distância teria errado o ponto? ou algum poder sobrenatural e misterioso lhe teria turbado a vista e desviado a seta? Nada disso era crível, e nada disso acontecera. A flecha bem despedida do arco de Inimá voou certeira ao peito esquerdo de Itajiba, mas caiu-lhe aos pés sem penetrar!
Mas como poderia isto acontecer a não ser por um milagre? perguntar-se-á. Milagre ou não, nesse fato teve Gonçalo a mais evidente prova da valiosa proteção da Santa Virgem, por quem sempre tivera a mais viva e fervorosa devoção. A flecha do selvagem encontrou no peito de Gonçalo a grossa medalha de ouro, em que estava esculpida a imagem da milagrosa Santa, e caiu embotada a seus pés. Amparado por aquele escudo celestial o seu corpo nem de leve foi tocado, e sua alma foi salva dos caminhos da perdição.
Será um acaso? ninguém o dirá; foi manifesta proteção do céu, que queria converter um facínora em instrumento da divina misericórdia para alívio dos males da humanidade.