os monstruosos crimes e desatinos que constituíam a história de sua vida passada. Gonçalo então apareceu a seus próprios olhos como um monstro, que a humanidade devia repelir de seu seio com horror. O espectro do infeliz Reinaldo picado a facadas por suas mãos, as sombras errantes e chorosas da bela Guaraciaba e do esbelto Anhambira, cujo sangue ainda lhe tingia as mãos, e a desse mísero cacique, cujo cadáver rolava talvez a seu lado arrastado pela torrente, e de cuja desgraça era ele o único autor, ele os via a todos surgirem diante de seus olhos torvos e sangrentos, e com vozes lamentosas o cobrirem de pragas e maldições. Aquela alma de ferro caía enfim do fastígio do orgulho nos abismos da mais profunda humilhação. A flecha de Inimá não pôde penetrar naquele coração protegido por um escudo invisível e celeste, mas lá deixou para sempre gravada a farpa do remorso.

Este último acontecimento, que o salvava de uma morte quase inevitável e por ele mesmo procurada, foi como um brado do céu, que ecoou profundamente em sua alma obcecada pelo crime e obumbrada pelos fumos do orgulho humano. Compreendeu então que a Santa Virgem, que desde a infância venerara com especial devoção, não o tinha preservado em vão até ali de tantos e tamanhos perigos, e o reservava para algum santo e piedoso desígnio, que