de sua peregrinação sobre a terra. Gonçalo, se é lícito comparar uma frágil criatura humana com a divindade, estava então como o Cristo nessa hora de profundo abatimento, nesse momento de suprema agonia, em que no monte das Oliveiras junto à torrente do Cedron, sozinho e abandonado por seus discípulos, suou sangue e sentiu sua alma desfalecer e vacilar ao receber o cálix do martírio, que um anjo lhe apresentava. Gonçalo não tinha, como o divino Redentor, sobre o seu coração todo o peso dos pecados de um mundo para remi-los com seu sangue, mas tinha a consciência oprimida por suas imensas e enormes culpas, e sentia também sua alma desfalecer à míngua de consolo e de esperança. O mundo para ele não era mais que um vasto cemitério, um vale fúnebre de lágrimas e misérias; só no céu poderia achar o repouso e alívio por que em vão suspirava; mas surdo às suas preces, lágrimas e penitências, o céu para ele era de bronze, e de lá não baixava consolação nem lenitivo às cruéis tribulações de sua alma. Ali derramou ele lágrimas ardentes de contrição e arrependimento, implorou do íntimo da alma a misericórdia divina sobre seus enormes pecados, beijou com fervorosa devoção a imagem da Virgem, encostou-se sobre a relva à beira do córrego, e adormeceu ou antes caiu em um letargo, que mais era prostração e desfalecimento do que sono.