nenhuma a Gonçalo, que com razão receava que por um acaso ou por uma traição de seus rivais da tribo fosse conhecida em Goiás a sua existência entre aqueles indígenas. Portanto resolveu-se a abandonar para sempre os Coroados, e ir procurar refúgio em mais desertos e longínquos países. Ele bem sabia que ia arrostar perigos e azares ainda maiores, e que daí em diante só encontraria feras e gentios indomáveis; mas antes quereria morrer entre as garras de um tigre ou trespassado pelas flechas dos selvagens, do que voltar a Goiás ainda mesmo de seu moto próprio, quanto mais preso e entregue à justiça.
Em uma noite pois, metido em uma canoa, em que embarcou suas armas e as provisões que pôde, deixou furtivamente o arraial dos Coroados, e abandonou seu destino à mercê da torrente do Tocantins. Assim foi descendo através de mil dificuldades e perigos, que superava à força de audácia, destreza e astúcia, em luta já com as cachoeiras do rio, já com as hordas selvagens de ambas as margens, já com a fome e privações de toda a sorte, até que chegou ao lugar onde, depois de obstinada resistência, o vimos cair como morto em poder dos Chavantes.