vós outros filho das selvas livres; sei encurvar o arco e despedir a flecha de meus antepassados, falo, como vês, a tua língua, e só conheço o imboaba para odiar-lhe e beber-lhe o sangue.

Gonçalo por uma prudente astúcia entendeu que devia nesta conjuntura ocultar a verdade, e nem ele mentia totalmente, pois que voluntariamente se havia seqüestrado da sociedade para viver entre os selvagens. Ao ouvir estas palavras Guaraciaba não pôde conter um grito de surpresa e satisfação.

— É verdade o que acabas de dizer, estrangeiro? quê! tu não és imboaba!... tu és dos nossos! nesse caso tranqüiliza-te; nada tens a temer aqui, é a filha de Oriçanga quem responde pela tua vida.

— Anjo, exclama Gonçalo com voz sumida e angustiada, para que queres poupar-me a vida?... Ah! tu não sabes quanto ela me é odiosa e pesada... Mas tu não és por certo uma mulher... tu és um manitó celeste enviado por Tupá para proteger-me e consolar-me... ah! deixa-me beijar essa mão generosa...

— Cala-te, interrompeu ela levando-lhe os dedos à boca; o pajé não quer que fales, pois isso te fará muito mal. Ah! imprudente que eu fui em te fazer assim falar por tanto tempo.

A primeira claridade do dia já vinha frouxamente penetrando pelas frestas da cabana. As selvas começavam a despertar aos mil rumores que faziam uma multidão