modelo, estava pronta a escutar com a maior atenção e infantil curiosidade.

— Estrangeiro, diz Oriçanga, quem quer que tu sejas, ou descendas do sangue maldito do imboaba, ou tenhas nascido neste país que Tupá abençoou, já que o céu te fez cair em nosso poder, és nosso escravo, e faremos de ti o que nos aprouver. Mas diz alguém que não pertences à raça detestada de nossos perseguidores, e que as tuas tristes aventuras obrigam-te a vaguear pelas selvas foragido sem taba e sem manitós. Conta-nos pois com espírito de verdade a história de teus infortúnios, e à vista dela veremos qual a sorte que mereces.

Gonçalo, prevenido por Guaraciaba de que teria de contar ao pai dela a história dos acontecimentos de sua vida , já tinha fantasiado em seu espírito a narração que devia fazer ao velho cacique. Não lhe era preciso inventar muitas fábulas, mas somente disfarçar certas circunstâncias de sua vida mudando o nome de algumas pessoas e lugares e ocultando a sua verdadeira nacionalidade, para tornar interessante a sua narração. Assim pois misturando às vezes a história real de sua vida, cheia de incidentes e trabalhos, com algumas fábulas por ele mesmo ideadas, disse que pertencia à bela e formidável tribo dos Guaicurus, que habitavam as remotas regiões banhadas pelos rios Paraná e Paraguai. Seu pai era um cacique afamado naquelas