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O IMPERIO BRAZILEIRO

até que gráo lavrava a insubordinação no exercito. A officialidade andava em bom numero transviada da sua educação profissional pela cultura de uma doutrina philosophica franceza que nem todos digeriam satisfactoriamente, mau grado o bem ordenado da sua systematização. O positivismo era Evangelho na Escola Militar que, oriunda da antiga Escola Central, depois do seu desdobramento, de que sahiu a Escola Polytechnica, se tornara um viveiro de agitadores — abolicionistas e democraticos. Tenentes e capitães mostravam saber de cór Augusto Comte e Laffite em vez de Jomini e von der Goltz. Frequentavam seus clubs, discutiam politica e litteratura, em vez de concorrerem aos campos de exercicios. Faltava-lhes uma verdadeira tradição militar, mal substituida pelas reminiscencias das luctas intestinas, primeiro contra o elemento portuguez, preponderante no exercito formado por D. João VI, em seguida contra os proprios nacionaes. A campanha do Paraguay foi na verdade a unica guerra estrangeira do Imperio digna do nome.

O modo de recrutamento do exercito constituia um defeito basico e é o responsavel pela sua organização defeituosa. Não existindo o serviço obrigatorio, que depois nobilitou o exercito argentino, procedia-se por meio de alistamento, que só se effectuava entre as classes inferiores da sociedade. Nas fileiras do exercito como nas tripulações da esquadra só se viam negros e mestiços de varios tons, alem de brancos dos sertões, que todos sabiam bem morrer com as armas nas mãos, inexcediveis na coragem e na indifferença ao soffrimento physico, mas offerecendo uma materia prima de crassa e brutal ignorancia para o manejo politico. Os officiaes eram para elles meros feitores agaloados, que podiam mandar açoital-os, que os commandavam no assalto das posições inimigas e a quem com igual desplante obedeceriam si lhes apontassem o assalto das posições civis. Os liberaes educados pelo Imperio repelliam tal processo de promoção do partido, declarando por esse tempo pela bocca do visconde de Ouro Preto que nunca escalariam o poder por meio de pronunciamentos militares e preferiam o ostracismo perpetuo a aventurarem-se na estrada aberta pelas espadas e