CAPITULO X
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É voz corrente no Brazil que a guerra do Paraguay sobretudo aproveitou á Republica Argentina, e até certo ponto é verdade que ella lucrou positivamente com o abatimento de um paiz que politicamente se queria contrapôr á sua expansão, e que sahiu esfrangalhado da tentativa, e com os fornecimentos da campanha — cereaes e carnes, o producto da sua lavoura e da sua criação — durante annos.

Mauá, que foi no Imperio o homem de todas as iniciativas utilitarias e cuja faculté mâitresse era o descortino economico, não enxergou a guerra como favoravel aos nossos interesses e buscou evital-a, elevando-se pessoalmente á pujança financeira internacional e collocando-se no Uruguay como uma estatua de Rhodes diplomatico, symbolizando a grandeza do Brazil e seu predominio platino.

O papel de Mauá na nossa formação foi agora objecto de um trabalho enthusiastico do snr. Alberto de Faria, que o põe a par de D. Pedro II e de Caxias como os trez maiores agentes da unidade nacional. No seu livro, de cujas provas teve a gentileza de facultar-me a leitura, elle mostra o banqueiro intervindo efficazmente na defesa da Cisplatina autonoma contra a absorpção argentina, uma vez a causa de Montevideo abandonada pela França, e assim collaborando na obra de Paulino José Soares de Souza, de impedir a realização do plano unificador de Rosas. A politica de Mauá era a de franca intervenção, e elle proprio desassombradamente declarava repellir a abstenção. «Sou daqueles, escrevia em 1864, que pensam dever o Brazil exercer no Rio da Prata a influencia a que lhe dá direito sua posição de primeira potencia da America do Sul...». Estava pois talhado para agente do nosso imperialismo, e na sua concepção este tinha de buscar-se na conquista economica, operando pelo que hoje se chama a diplomacia do dollar. Sabe-se que tal diplomacia