como um corpo à cabeça que estava em Roma. Podia dirigi-la, se eu quisesse, e fazer dela uma alavanca para abalar o mundo. Precisava porém de estar aqui. O geral Miguel Ângelo Tamburini, a quem confiei a minha ideia, nomeou-me vigário da ordem, nomeação secreta que foi confirmada por seus sucessores. Com essa autoridade, voltei ao Brasil e continuei a trabalhar.
ESTÊVÃO – E desde então o que fizestes?
SAMUEL – Ides ver. Esta região rica e fecunda era e ainda é hoje um deserto; para fazer dela um grande império, como eu sonhei, era necessária uma população. De que maneira criá-la? Os homens não pululam como as plantas; a reprodução natural demanda séculos. Lembrei-me que havia na Europa raças vagabundas que não tinham onde assentar a sua tenda; lembrei-me também que no fundo das florestas ainda havia restos de povos selvagens. Ofereci á aqueles uma pátria; civilizei estes pela religião. Daniel, o cigano, era o elo dessa imigração que em dez anos traria ao Brasil duzentos mil boêmios; Garcia, o índio, era o representante das nações selvagens que só esperavam um sinal para declararem de novo a sua independência.