lhe sorvia ella todos os volumes da amada bibliotheca, sempre a ratinhar, a rosnar, a espichar nickeis para o que valia notas.
Uma vez recebeu o moço más noticias de casa e instante pedido de uma linda irmãzinha que deixara em Catalão. Era forçoso servil-a, inda que mister fosse vender a alma ao diabo.
O geito era um só: negociar em bloco os livros restantes. Que vá, que vá. Uma grande dôr, unica, é de preferir-se a mil dorezinhas parcelladas. Que vá tudo!
Contou-os. Trezentos. Pelo preço medio que o judeo lhe pagava por unidade, obteria com aquelle sacrificio derradeiro os duzentos mil réis necesarios e mais uns bicos. Que vá.
Baptista retezou-se d'alma, amordaçou o coração, metteu na carroça os velhos amigos e, como vai para a guilhotina o condemnado, foi com elles para a rua do Cattete.
O judeu examinou os volumes um por um, cheirou-os, sopesou-os e depois de longas manobras, engasgos, meias palavras e coçadelas de barbicha, abriu offerta.
— Dou-lhe quarenta mil réis, moço, por ser para o senhor. E lamba as unhas, hein?