— Caro? Um livro destes, nesta encadernação, deste editor, deste autor? Nem me diga isso! E o senhor deve saber que “Dorian Gray” é a obra prima de Oscar Wilde.
Meus dedos se crisparam. Que prazer estrangular aquella harpia! Contive-me, porém.
— E aquele coelhinho, perguntei-lhe, quanto?
— Que coelhinho? exclamou a aranha, mudando de cara.
— Um que está na vitrina.
— Ah! Sim... Aquelle coelhinho não vendo.
— Porque o expõe, então?
— Expul-o ao sol. Móra aqui na minha mesa, mas como a casa é humida, ponho-o ás vezes lá, para evitar o bolor.
Diabo! O homem principiava a desnortear-me. Tinha em casa um objecto que não vendia. Era lá possivel que um judeu daquelles não vendesse até a alma?
Insisti:
— Dou-lhe cinco mil reis pelo coelhinho!
— Já lhe disse que não é de venda. Cinco mil réis!... Nem cinco contos, sabe?
Revoltei-me. Veio-me á imaginação toda a