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O MANDARIM

 

de novo o resplendor das minhas janellas alumiou o Loreto: e pelo portão aberto, viram-se como outr’ora negrejar, nas suas fardas de sêda negra, as longas filas de lacaios decorativos.

Logo, Lisboa, sem hesitar, se rojou aos meus pés. A Madame Marques chamou-me, chorando, filho do seu coração. Os jornaes deram-me os qualificativos que, de antiga tradição, pertencem á Divindade: fui o Omnipotente, fui o Omnisciente! A aristocracia beijou-me os dedos como a um Tyranno: e o clero incensou-me como a um Idolo. E o meu desprezo pela Humanidade foi tão largo, — que se estendeu ao Deus que a creou.

Desde então uma saciedade enervante mantem-me semanas inteiras n’um sofá, mudo e soturno, pensando na felicidade do não-ser...