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“A dar-se ao Recife o termo que o governador queria, perdia a nobreza do país; porquanto, igualando-se os nobres aos mascates, e sendo estes muito mais numerosos, vinham aqueles a ser excluídos nos pelouros dos lugares da republica; perdiam as rendas publicas na arrematação dos contractos, porquanto, sendo os arrematantes os mascates, e compondo estes o senado, perante quem se arrematavam, vinham eles a ser juizes e partes, e a seu salvo podiam arredar da arrematação os nobres que quisessem lançar; perdia finalmente toda a população produtora, porquanto, competindo aos almotacés taxarem os preços dos viveres, e sendo o almotacé do Recife mascate, seguia-se, como se seguiu, que os gêneros conduzidos a mercado pelos matutos se taxassem em preço mui baixo, e os que vendiam os mascates taberneiros se estimassem em subido preço”.

Por onde se vê que nem era de todo sem fundamento o ódio que nobres e mercadores se votavam mutuamente, nem a guerra a que esse ódio deu lugar podia faltar em rebentar com a veemência e crueza que a caracterizaram. Enfim, a luta era menos de fidalgos e peões do que da agricultura ameaçada de ruína, e do comercio que aparecia