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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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um eufemismo para disfarçar o verdadeiro nome dessa torpe traficancia.

Porque o golpe tinha outro intuito. Mantidos aqui os africanos boçais, que legalmente eram irredutiveis ao cativeiro, começou o jogo de astúcia para levá-los, aos poucos, até o tronco dos escravos.

A lei mandava que se lhes entregasse uma pequena lata, pendurada ao pescoço, contendo uma carta declaratória de que o portador era livre. Mas como esses negros, “livres”, não podiam ficar inutilmente pesando sobre as arcas da Fazenda Publica, estabeleceu-se que eles teriam de trabalhar 14 anos em serviços publicos, “enquanto não fossem reexportados”. Estavamos caminhando para o desideratum escravocrata. Já houvera os pretextos para não reembarcar os negros. Agora, já havia a forma para cohonestar a demora da devolução, fazendo-os trabalhar afim de que pagassem o proprio sustento.

O terceiro passo aí vinha. Foi quando o Governo, atendendo a reclamos dos lavradores, achou de bom alvitre alugar o trabalho desses homens “livres”. A princípio a medida foi empregada só para o municipio da Capital. Depois, a cousa estendeu-se, naturalmente, em seguimento a um plano bem amadurecido e bem urdido. Já era uma crueldade aplicar a esses desgraçados o premio de 14 anos de servidão por haverem feito, contra a vontade, uma viagem em navio negreiro, nas condições que ninguem ignora. Com o novo sistema de arrendamento do trabalho manual, os boçais “livres”, dentro de poucos anos, se encontraram, de fato e de direito, definitivamente incorpo-