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SUD MENNUCCI

tempo que mostram até onde ia a indiferença geral pelo problema. A questão, de fato, não existia senão na cabeça de alguns malucos.

Afranio Peixoto comentou no seu “Castro Alves” como fôra recebido no Brasil o verbo do cantor dos escravos e a impressão que ele fizera na coletividade: “A causa era tão nova e tão desinteressante para a propria geração dos moços, que me afirma um seu contemporaneo, causava a todos espanto e pena que o joven Castro consagrasse o seu talento e a sua heróica juventude a um apostolado sem simpatia na multidão, nem favor nas classes dirigentes”. E o criador do “Navio Negreiro” nem é da decada de 1850. Veiu em meados da seguinte.

As menores tentativas de equiparação dos negros aos brancos, inclusive nas práticas mais sagradas e mais santas, como a do enterro, por exemplo, tinham servido sempre de repasto á zombaria popular. Relembrem-se as palavras de Humberto de Campos, nas suas “Memórias Inacabadas”, narrando a historia da escrava Isaura, a qual, depois de liberta, adquirira um caixão de defunto para com ele poder conduzir os cadaveres dos escravos ao cemitério:

“Que eles tivessem, na morte, uma igualdade que não haviam conseguido em vida. O caixão leva-los-ia a enterrar e voltaria para a igreja, á espera de outro viajante para a Eternidade. A caminho do outro mundo, naquele esquife agaloado, que substituiria a rêde humilde e suja, o escravo teria a ilusão póstuma de que morrera redimido. E Teresa, a velha preta, era feliz e resava consolada, porque dera esse último sonho de liberdade aos seus irmãos”.