direi recuar nas suas idéas, mas transigir apenas, viveu sempre pobre. Os seus proventos não estavam em proporção com o seu trabalho e sua clientéla porque esta se compunha de gente que precisava não só de sua capacidade profissional, mas tambem do socorro de sua bolsa.
Gama não libertava apenas os escravos, ajudava-os, depois, longamente a se manterem em posição de defender a liberdade conquistada.
Em seu escritório costumava haver dois caixotes com moedas do cobre e níquel, destinadas a acudir os pretos e mendigos que o procuravam nas horas de advocacia. O aspeto da visita denunciava-lhe os intuitos:
— Tire aí no caixote, dizia Gama.
E depois que o hospede se havia servido, era comum a interrogação do abolicionista:
— Quanto tirou?
— Dois gintens, siô.
— Homem, você é burro. Nem sabe aproveitar. Pois aí no caixote, tem níquel... [1]
Aos sabados, aquela alma de São Francisco a quem os trópicos bronzearam a pele, costumava fazer distribuição de dinheiro ás familias necessitadas. Punha as notas que suas posses permitiam, dentro de envelopes,
- ↑ Não se extranhe o epíteto. Gama era desbocado e de lingua sôlta. Para os pretos que ele protegia e que costumavam saudá-lo: — Sancristo |... Gama respondia invariavelmente: — Deus te faça branco, a começar pelo ..»