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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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— Queres passear com o papai, no mar, para ver os navios?

Não ha criança que recuse o convite de um passeio. O pequeno pulou de contente. Luiza corre a lavar e a vestir o filhinho. O garoto ia saltando alegremente pelas ruas. Um escaler leva-os, pai e filho, a bordo do patacho “Saraiva”. Luiz é uma criança viva que tudo quer ver e quer saber de tudo. O fidalgo, quando o vê absorto de curiosidade, a andar pelo navio, vai escapulindo geitosamente. Mas o pequeno, que não o sente a seu lado, corre á sua procura. Ao debruçar-se á amurada, ei-lo que o vê já no escaler que se afasta.

— Papai Papai! grita, chorando.

— Vou em terra e espera um instante que volto já.

O menino tem uma inspiração. Compreende, num relance, toda a infamia paterna, a cilada miseravel em que caira. E, sufocado de lagrimas, num brado de revolta:

— “O senhor me vendeu, papai!”

E’ uma história muito bem arrumada, muito lógica no seu seguimento. Só lhe falta um resquicio de verdade em que se escore. O patético da cêna final não concorda com o relato frio, de Gama, na sua Carta, que diz simplesmente o seguinte:

“Reduzido á extrema pobreza (fala do pai), a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luiz Candido Quintela, seu amigo inseparavel e hospedeiro, que vivia dos proventos de uma casa de tavolagem na cidade da