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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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leque de dezoito anos. E em minha correspondencia com a Baía, não ha a menor referência a esse fato de existirem páginas arrancadas ou mutiladas.

Ser-se-ia, portanto, levado a concluir, razoavelmente, que não foi com esse documento que ele obteve a sua liberdade.

De que maneira, então, a efetivou? Tratar-se-ia de alguma declaração de autoridade baiana, suficientemente influente no tempo, garantindo, pelo conhecimento anterior, a qualidade de homem livre de Luiz Gama? Quem sabe? Se romances fizessem prova, poder-se-ia sustentar a tése com o livro do sr. Pedro Calmon, “Os Malês, a insurreição das senzalas” e apontar para provavel fiador de Gama, a figura do político brasileiro, Angelo Muniz da Silva Ferraz, depois barão de Uruguaiana, aquele mesmo causidico que foi desalmado promotor do processo da rebelião negra de 1835 e que tantos escravos fizera condenar á morte ou “aos 400 açoites”, baseado em papeluchos escritos em lingua hebraica, tidos como comunicações revolucionarias e que, traduzidas hoje, revelam ser apenas simples orações e invocações a Allah, ingenuas e inofensivas.

Mas tanto seria prolongar uma fantasia, sem fundamentação histórica alguma, como veremos que é o livro, no fim deste volume.

A verdade sobre o caso, nunca ninguem a soube e, provavelmente, não a saberá jamais. Permanece apenas