tornou a sentar-se junto de Margarida. O corpo lhe tremia todo, a fronte gotejava suor em bagas, e os olhos lhe desmaiavam frouxos em langor voluptuoso.

— Margarida!... aqui estou - murmurou com desalento. - Mas... anjo meu!... tem piedade de mim... lembra-te, que sou padre!...

— Que importa!... eu sou tua irmã... quero abraçar meu irmão antes de morrer...

A moça pôs as mãos ambas sobre o ombro do padre, e fitou-lhe o rosto com um olhar e um sorriso, que resumiam um longo poema de amor. Os olhos alucinados nadavam-lhe em eflúvios de ternura, e o bafejo tépido e suave escoando-se por entre a rosa dos lábios entreabertos afagava as faces do mancebo. O xale em que se envolvia, tinha-lhe escapado dos ombros, e os dois pomos mal cobertos pulavam-lhe no seio inquietos e ansiosos, como duas rolinhas implumes, que forcejam por saltar do ninho.

No quarto de Margarida reinava uma luz frouxa, que entrava por uma janela de empanada; o ar estava impregnado do aroma inebriante das flores, que ornavam a mesa. A velha tinha saído, e naquela casa só se achavam os dois...