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o sertanejo

então os havia nas colonias, e para os quais a religião era uma industria, o altar um balcão.

     Praticavam as tres pessoas acerca do facto á que tinham assistido, e o capitão-mór, perplexo na opinião que devia formar sobre tão estranho caso, ouvia aos seus dois ajudantes, o do espiritual e o do temporal  :

     — Tem-se visto sujeitos neste sertão que lidam com as cobras mais assanhadas, como a cascavel e a jararaca, as enrolam ao pescoço ou as trazem no seio sem que lhes façam mal ; observava Agrela.

     — Eu conheci nos Cariris, aderiu o capellão afirmando com a cabeça, um caboclo que tinha criação dellas.

     — Esse poder que uns tem sôbre as cobras, outros o terão sôbre as feras, como acabámos de ver ; tornou Agrela.

     — Mas esses não são feiticeiros, Agrela ? O seu poder não vem de artes occultas ?

     — Assim pensa toda a gente, Sr. capitão-mór. Mas para mim tenho que são cousas naturaes, ainda que não as sei explicar.

     — Que dizeis á isso, padre Telles ? perguntou o fazendeiro voltando-se para o capellão.