Guarde Deus a vossa senhoria por muitos anos. Dêste seu servidor, pronto sempre às suas ordens

Marcos Antônio Fragoso

Era fácil de reconhecer no estilo da carta a mão diplomática de Ourém. O Fragoso não tinha paciência nem retórica para arredondar êsses períodos em que, sob os rendimentos de uma cortesia respeitosa, fazia-se ao fazendeiro a intimação formal de entregar a filha a título de noiva no prazo de três dias, se não queria sujeitar-se a lhe ser arrancada à fôrça.

Êsse excesso de deferência com que o licenciado procurou atenuar a cominação, pungiu mais o orgulho do capitão-mór do que uma linguagem grosseira e desabrida. A impossibilidade em que se achava o fazendeiro de repelir a agressão, se insinuava nas frases mais polidas da carta, uma ironia que não estava no pensamento do escritor, nem nas intenções do signatário.

Assim ao terminar Padre Teles a leitura, Campelo tirou-lhe das mãos o papel, e rasgou-o ao meio. Leandro Barbalho, porém, levantou as duas bandas, e o capelão recordou-se naquela