preito e homenagem ao rei de Portugal, seu senhor suserano, cuja autoridade não penetrava no interior senão pelo intermédio deles próprios. Quando a carta régia ou a provisão do governador levava-lhes títulos e patentes, êles a acatavam; mas se tratava-se de coisa que lhes fosse desagradável não passava de papel sujo. Não davam conta de suas ações senão a Deus; e essa mesma era uma conta de grão-capitão, como diz o anexim, por tal modo arranjada com o auxílio do capelão devidamente peitado, que a conciência do católico ficava sempre lograda. Exerciam soberanamente o direito de vida e de morte, jus vitæ et næcis, sôbre seus vassalos, os quais eram todos quantos podia abranger o seu braço forte na imensidade daquele sertão. Eram os únicos justiceiros em seus domínios, e procediam de plano, sumarissimamente, sem apêlo nem agravo, em qualquer das três ordens, a baixa, média, e a alta justiça. Não careciam para isso de tribunais, nem de ministros e juízes; sua vontade era ao mesmo tempo a lei e a sentença; bastava o executor.

Tais potentados, nados e crescidos no gôzo e prática de um despotismo sem freio, acostumados a