Si eu pudesse ao luar, Lucilia bella,
Queimar-te a fronte de insensatos beijos,
Dobrar-te ao collo, minha flôr singela,
Ao fogo insano de eternaes desejos;
Ai! si eu pudesse de minh’alma aos elos
Prender tu’alma enfebrecida e cálida,
Erguer na vida os festivaes castellos
Que tantas noites planejaste, pallida;
Ai! si eu pudesse nos teus olhos turvos
Beber a vida da volupia ao véo,
Bem como os juncos sobre as ondas curvos
A chuva bebem que derrama o céo,
Talvez que as magoas que meu peito ralam
Em cinzas frias se perdessem logo,
Como as violas que ao verão trescalam
Somem-se aos raios de celeste fogo!
Oh! vem, Lucilia! é tão formosa a aurora
Quando uma fada lhe baptiza o alvor,
E a madre-silva, que ao frescor vapora
Os ares peja de lascivo amor...