— Rema, rema, barqueiro; olha — lá em baixo
À luz vermelha do fuzil que passa,
Não ves o vulto de um rochedo escuro
Que a correnteza estrepitando abraça?
— Oh se o vejo, senhora; eu bem o vejo!
Diz o barqueiro com sinistra voz;
Pedi à Virgem que os perigos vela
Que tenha ao menos compaixão de nós!
Como ao rijo soprar das ventanias
Os mortos bóiam sobre as águas frias!
Eis dentre as vagas de caligem densa
Vem macilenta se mostrando a lua,
Como à luz dela a natureza é morta,
Como a planície é devastada e nua!
Perto, tão perto se levanta a margem
Onde fagueira a salvação sorri,
E nós rolamos, e rolamos sempre
E não podemos aportar ali !
Como ao rijo soprar das ventanias
Os mortos bóiam sobre as águas frias!
Duro, insofrido o vendaval soergue
Da onda a face em convulsão febril;
— Barqueiro, alento! e chegando em terra,
Hei de cobrir-te de riquezas mil.